quinta-feira, 21 de outubro de 2010

o tempo não tem fim, mas é o fim

ela estava sentada à mesa da praça de alimentação no shopping mais monótono da cidade. tinha unhas vermelhas e usava tomara-que-caia com fita azul escuro enlaçando sua cintura. esperava pelo filme que só começaria em meia hora e pensava nas coisas de sua vida medíocre aos olhos alheios. não sabia bem o que esperar, mas tinha a sensação permanente de que seu dia de finalmente brilhar chegaria.
porém, não se sentia bem com este pensamento, afinal as coisas acontecem quando menos se espera, se pensa nelas. soltou os cabelos até então presos por conta do calor e tirou um lenço de dentro da bolsa. ele embrulhava fotografias de um passado triste e belo que ela trazia à tona quando o tédio a tomava. o único problema era o contato com tais fotografias que sempre traziam lágrimas. ela não conseguia simplesmente olhá-las com saudade comum àquilo que se foi pois todas as vezes era invadida pela mesma dor em não poder vivê-lo mais. em especial, a falta de uma pessoa acabava com ela, até hoje. alguém que não mais morava na mesma cidade e ela sonhava em reencontrar. muitas coisas estavam inacabadas e nisto havia todo um universo a ser dito e outro a ser escutado. mas ela também não gostava de mergulhar neste mundo. decidiu guardar as fotos e ir até a loja de brinquedos na esperança de encontrar sua doce infância e esquecer por ora tantos devaneios desnecessários.
logo que entra, dá de cara com um urso koala de pelúcia igualzinho ao que no passado, ganhou de presente daquela pessoa. no ato de virar as costas, ouve:
- oi minha koala!
se vira de volta procurando a voz que tanto conhece e só enxerga a vendedora perguntando o que deseja.
- desejo sair daqui o mais rápido possível! estou ouvindo vozes. talvez tenha enlouquecido.
- moça... espera!

mas ela já tinha saído, rápida como uma bala, com as lágrimas de volta ao rosto.

Nenhum comentário: