domingo, 31 de outubro de 2010

I'll draw you a quick map

ela ardia, mas seu corpo não estava ferido
sentia queimar as mucosas e percebia seus olhos secos
não era simples ou fácil de explicar
o espírito em paranóia não deixava a mente descansar

enganava-se achando que era capaz
mentia dizendo: sou livre e vivo em paz
lutava como guerreiro único na batalha
mas não conseguia calar-se com a navalha

'liberte-se de seus medos' ele dizia
'se abra deixando que tudo venha e só assim parta'
presa em si, ela cobre os olhos e fecha o caderno sagrado de mentiras
negando tudo o que acontecia dentro dela

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

oh, and it's safe in here?

ela buscava fervorosamente dentro de si aquela resposta que a tiraria de toda a ansiedade por tê-lo. sabia, claro, que ninguém era de ninguém, mas acreditava na comunhão entre duas pessoas, no conhecimento, na compreensão, afinal só podemos nos conhecer ao lado de outra pessoa. ele, por outro lado, passava a maior parte do tempo estudando e quando tinha uma brecha, acabava por ficar na faculdade fumando um ou se distraindo com os amigos. acabava a deixando de lado por mais que não quisesse, ele apenas era alguém disperso em relação a tudo. agora, pela primeira vez, havia descoberto algo que o prendesse: a física quântica que ele engolia a todo tempo que tivesse. fora isso, era um sujeito bastante desligado e deixava a vida o levar ao invés de levar a vida.
sem achar uma saída, a menina apenas chorava para aliviar um pouco seu medo de os dois estarem se perdendo, de novo e o pior de tudo: e se desta vez não mais se encontrassem?
de qualquer forma não adiantava muito ficar pensando ou planejando seus desejos. eles poderiam se realizar ou não e ela já estava até acostumada com a segunda opção apesar de não desistir nunca de tentar fazer com que aquela linda história de amor continuasse tão linda quanto era há algum tempo.
pensava em desistir sim, mas alice era acima de tudo uma guerreira. ela lutava até o fim no que acreditava valer a pena e o amor decididamente valia a pena, especialmente para alguém que nunca havia amado antes. era seu primeiro amor e ela queria que fosse eterno.
daniel não entendia a dimensão daquilo tudo, até conseguia entender que talvez estivesse a deixando meio de lado, mas não percebia todo o sofrimento que aquilo causava à sua princesa encantada. para ele, nada iria mudar o que sentia, ainda que se perdessem, o amor era capaz de tudo, até mesmo de permanecer entre dois seres que não mais se reconheciam. e ainda era cedo para pensar nisto. mesmo estando mais ausente nos últimos tempos, ele ainda a amava da mesma forma o até mais pois ela o encantava com sua constante mudança para melhor.

dois lados diferentes e um tanto incompreendidos resistirão a tanta distância? ou será que alguma coisa irá finalmente mudar esta história?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Something peed in your bed

I feel nothing but the rain inside me
it's taking my peace away
I'm floating, drowning in an endless deep
getting into nowhere, you begin to fall

there's me making me give up my wishes
and all of these clothes covering the emptiness
I don't know when it's gonna end, where have I lost my mind

my brain scream as hell an I'm going insane
my thoughts are lost in the middle of sense
I became what I think, but I don´t know what to think
I´m just laying down above all those dark things


sábado, 23 de outubro de 2010

I think you were

tudo parece martelar, latejar, perturbar
uma explosão prestes a acontecer que nunca acontece
presa dentro da montanha, a lava endurece, empedrece
apodrece e seca, para no fim virar cinza e ser esquecida

não adianta me entorpecer de chocolate ou outras drogas
um instante de alívio trará depois uma infinidade em agonia
e se durante o dia já está pesando, à noite tudo fica mais pungente
a lua chega na tentativa de me iluminar, mas são
as trevas quem me tomam

ainda que todo o amor viesse me procurar esta madrugada
eu não estaria pronta para recebê-lo
preciso de paz e estou em guerra permanente com minhas entranhas
e ele iria embora na tentativa frustrada de encontrar aquela que sempre o buscou

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

o tempo não tem fim, mas é o fim

ela estava sentada à mesa da praça de alimentação no shopping mais monótono da cidade. tinha unhas vermelhas e usava tomara-que-caia com fita azul escuro enlaçando sua cintura. esperava pelo filme que só começaria em meia hora e pensava nas coisas de sua vida medíocre aos olhos alheios. não sabia bem o que esperar, mas tinha a sensação permanente de que seu dia de finalmente brilhar chegaria.
porém, não se sentia bem com este pensamento, afinal as coisas acontecem quando menos se espera, se pensa nelas. soltou os cabelos até então presos por conta do calor e tirou um lenço de dentro da bolsa. ele embrulhava fotografias de um passado triste e belo que ela trazia à tona quando o tédio a tomava. o único problema era o contato com tais fotografias que sempre traziam lágrimas. ela não conseguia simplesmente olhá-las com saudade comum àquilo que se foi pois todas as vezes era invadida pela mesma dor em não poder vivê-lo mais. em especial, a falta de uma pessoa acabava com ela, até hoje. alguém que não mais morava na mesma cidade e ela sonhava em reencontrar. muitas coisas estavam inacabadas e nisto havia todo um universo a ser dito e outro a ser escutado. mas ela também não gostava de mergulhar neste mundo. decidiu guardar as fotos e ir até a loja de brinquedos na esperança de encontrar sua doce infância e esquecer por ora tantos devaneios desnecessários.
logo que entra, dá de cara com um urso koala de pelúcia igualzinho ao que no passado, ganhou de presente daquela pessoa. no ato de virar as costas, ouve:
- oi minha koala!
se vira de volta procurando a voz que tanto conhece e só enxerga a vendedora perguntando o que deseja.
- desejo sair daqui o mais rápido possível! estou ouvindo vozes. talvez tenha enlouquecido.
- moça... espera!

mas ela já tinha saído, rápida como uma bala, com as lágrimas de volta ao rosto.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

have I gone mad?

passava correndo pelas árvores sendo invadida por feixes de luz solar rindo sem motivo quando fui subitamente surpreendida por um guarda-chuva em plena época de seca. ele era roxo, um roxo bem clarinho quase rosa, um pouco transparente, grande e tinha uma fita vermelha amarrada no cabo. começou a ventar forte e ele continuou estranhamente estático, igualmente aberto como se resistisse a tanto vento. fui até ele curiosa, tentando descobrir o que havia naquele guarda-chuva de tão especial que o impediam de sair voando como as folhas secas que o permeavam.
a fita vermelha continuava firme no chão quando a toquei. ela então como num passe de mágica, criou vida própria e se curvou para mim. sacudi a cabeça e me belisquei para me certificar de que não estava dentro de mais um sonho. não estava. ao contrário, bem acordada após me afastar do trabalho para uma caminhada na floresta na companhia única de Absolem em meus ombros. ele dormia enquanto o encontro acontecia. estiquei a mão tentando tocar o guarda-chuva até perceber que nele havia um campo magnético que repelia qualquer coisa que se aproximasse. compreendi sua inércia diante do vento. dei as costas e quando voltei a caminhar havia outra fita presa em meus pés me impedindo de andar. nela estava escrito:

nunca se esqueça de que até mesmo as coisas paradas estão sempre em movimento, dona Alice.

logo percebi que a fita havia sido escrita por Absolem que adorava me pregar peças e parei para notar algum movimento em mim.
- Certíssimo, Absolem!

domingo, 17 de outubro de 2010

what do you live for?

odeio a forma que o vinho avinagrado entra na minha boca e atinge o meu estômago na intenção única de me fazer sentir algo que não seja falta. falta de sentido, vazio existencial, a eterna dúvida do que fazer da vida ainda me perseguindo aos quase vinte e oito. odeio ser essa pessoa indeterminada que mal sabe cumprir suas promessas de amor e já sai deslizando a qualquer esquina se não segurar. odeio o fato de estar presa neste corpo estranho cheia de paranóias com o que acontece ou não dentro dele. mas odeio mais ainda não estar bem pelo fato de temer, mais que qualquer coisa, te perder.
dependência emocional, amor doentio, paixão exagerada... chame do que quiser, mas com vc perto eu sei, percebo que mesmo perdida ainda tem algo em mim digno de ser admirado a ponto de fazer com que queira estar ao meu lado, cuidando de mim ou sendo cuidada por mim, dividindo toda uma vida de crises e fazendo dela mais leve e fácil de ser vivida.
o sentido da vida é a própria vida, mas o que dá à minha é o amor, o seu amor que me faz crescer, acreditar e mudar ainda que devagar o que já era pra ter mudado. sem isso, não teria porquê fazer nada. e continuaria estática, ansiosa, esperando não sei o quê, não sei de quem, mas com certeza algo que nunca chegaria.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

I can hear you

se em alguns dias eu me sufoco, em outros me abro como flor na primavera
e falo sem sentir o que me prendia por tantas estações sem perceber
sem me arrepender, solto até o que não devo
e por vezes me surpreendo com a abertura de algumas pessoas

enfim posso ouvir minha música e dançar sozinha no meu quarto
livre de tudo que me retrai, me tensiona, me anseia
sou menina doida fazendo movimentos sincronizados vista pela janela
e lá de fora, quem vê em imagina o caos que está sendo liberto

a thaís é linda e eu quero ela pra sempre
me dá luz e calor e acolhe minhas palavras com gosto e respeito
me sinto nua e não parece errado
ao contrário, nunca foi tão certo me abrir tanto de todas as formas



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

you've lost your muchness

saio da toca do coelho e da rainha maluca a cada manhã para ir em busca de meu objetivo: fingir ser normal no mundo dos normais. esquecer completamente os chás, a troca de tamanhos e até mesmo as sábias idéias da lagarta azul que vivia em meu pescoço eu era induzida a esquecer que eles existem. os únicos que continuam fora de wonderland são o coelho e a rainha (sempre) vermelha. o gato me enlouquece e faz tudo ficar esfumaçado a ponto de não saber mais em que mundo realmente estou. até que aparece o chapeleiro (criatura peculiar por ter a habilidade de estar em mundos diferentes) me lembrando de que as coisas são do nosso jeito, todas as coisas e que aquele era o meu sonho em realidade.

veja só alice: é bom saber distingüir com clareza o concreto do abstrato. passar a vida entre a linha da normalidade e da loucura é no mínimo: masoquismo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

whatever works

contava que sonhei com a felicidade, ou algo feminino e luminoso
chegava em mim e falava: a felicidade é tão fácil quanto a tristeza
e 'vc só precisa parar de ter medo, de temer que ela entre'
acordada, sentia a leveza de que tudo é como a gente escolhe

consegui enfim decidir ouvir àquilo que me desperta ânimo
atender um pedido molhado da minha mãe neste forno que brasília agora reside
e então assistir à chuva mais linda de todas, aquela que é rápida e limpa, forte e sutil
ir para o carro e encontrar no percurso o arco-íris que faltava, fraco mas ali

mais tarde a maria, a talita, a estranheza em estar bem de verdade
sem aqueles martelos malditos destruindo a minha cabeça
sem pulsações tímidas ou movimentos involuntários
sem a raiz, o solo me prendendo contra tudo que no sonho clareava

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

what was wrong with me?

pela primeira e tão inédita vez os gritos não me sufocam
eles me aliviam, me distraem, me fazem deixar de lado a angústia pulsante
os tremores e temores estão cessando
e há em meu corpo todo um formigamento fervente

talvez comer, rezar, amar sejam coisas ainda difíceis demais
elas entram na minha cabeça sem filtro e flutuam dominantes por toda alma
me ferem de forma efêmera e deixam marcas
roubam a paz que habitava na noite e manhã anterior

o medo me consome mais a cada respiração
ataca a mente, o estômago, o coração
pode colocar tudo a perder numa imperceptível permissão minha
e me deixar estática mais uma vez olhando minha vida na parede, invejando-a

sábado, 9 de outubro de 2010

you're not one of us anymore

foi depois do sono vespertino que ela me encontrou
fraca, medrosa, sem jeito e vontade, me pegando devagar
quase sem eu perceber, quase sem eu permitir
e ainda com toda dificuldade conseguiu me pegar

ela nunca tem hora certa pra chegar
pode ser depois de dois incríveis dias de alegria e amor
ou mesmo antes de ser tomada por mais um dia de dor
não importa, ela chega sem ser convidada e invade até me tomar

dou então a atenção que ela clama
a pego, a cuido, a abraço com carinho e a transformo
junto em coro meus tão fortes poderes de retenção a que chama
para enfim destruí-la e apenas curtir a saída de mais um dejeto (in)desejado

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

say I'm a bird!

me sinto inflada, tão inflada sem a falta necessária para escrever
fatos incrivelmente inesperados plantam essa felidicada agora tão escassa
me sinto leve e flutuante como o amor deve ser
e o que antes me desesperava, agora me alivia a mente de paranóias

ontem tive momentos de intensa loucura
me permiti ter treze anos e saí pelas ruas fumando e bebendo
rindo como uma recém adolescente descobrindo a vida
raciocinando da mesma forma, porém sem o peso do que pode acontecer

apenas me fiz leve e solta, esquecendo qualquer dor ou mal sentimento
para que enfim chegasse a tão temida noite escura e aterradora
e caminhado até a casa, chegando sem alento eu esperasse ansiosa por teu cheiro
teus braços, teu brilho, teu jeito de me pegar para que eu enfim dormisse em paz

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

wake yourself up!

lá estava ela cantando pela rua, cantava 'pelos campos eu ainda viro flor'. estalava os dedos e saltava com vigor 'pelos campos eu ainda viro flor'.
rodava o vestido verde como uma criança que acabara de sair da escola, de férias. feliz e ansiosa pelo verão que prometia. em poucos dias deixaria aquela ilha de concreto e encontraria o mar junto a muitas pessoas que poderiam trazer tudo o que estava sendo perdido com o fim do ano.
no fundo, ela estava completamente perdida. cantava aliviada para ver se conseguia se distrair da distância do amor. ela agarrava-o com força com medo de perdê-lo sem saber que assim, espremendo, facilitava seu sumiço e portanto, sua tão profunda dor.
isabela buscava sem saber alguém que a convencesse de que aquilo ia contra o que procurava. a menina necessitava de atenção e se tornava assim, obcecada em segurar o amor com todas as forças de seu ser. iludida, acreditava que era essa a única forma de não deixar que o mais precioso se vá.

- veja bem, isabela. vc precisa soltá-lo. afinal, qual a graça de ter o amor se vc está o sufocando? muito melhor é vê-lo voar em sua direção por livre desejo de estar ao lado seu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

hello, stranger!

despedidas me tiraram da paranóia hoje
abraços alentaram minha alma apertada
histórias de criança arrancaram sorrisos preci(o)sos
e a certeza de que apesar de tudo, vou sentir muito a falta desses detalhes

pequenos detalhes que fazem a vida criar cor e vibrar
que desviam os pensamentos ruins para um papo furado
que preenchem a minha carência, relembram minha força
pequenos fazendo grandes mudanças de humor

existe em mim agora essa paranóia esquisita
sem pé ou cabeça, sem sentido ou emoção
um luto sem morte com lágrimas a percorrer
sem saber a raiz dela, deixo-me lavar pelos olhos

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

life isn't fair

por estar cheia de me sentir vazia passando o dia rodando
escolho estar vazia de me sentir cheia
cheia de mim, cheia das minhas dores e medos, cheia de todo o meu passado que não passa
cheia de tudo aquilo que me estafa e faz meus dias ficarem vazios de atividade

se antes temia estar ficando burra, agora temo o fundo do poço
se antes faltava tempo, agora as horas se alongam em agonia
me contorço na cama com todo meu ser em chamas
as tripas brincando de se enrolar umas nas outras aqui dentro

não adianta chorar, se cortar, apagar ou reclamar
nada muda o fato de eu ter tido uma vida árdua demais para conseguir mudá-la
posso até conseguir, mas preciso de tempo, de ajuda, de compreensão especialmente
preciso acreditar que posso e de gente acreditando junto


domingo, 3 de outubro de 2010

I don't know when anything began anymore or when it's going to end

talvez eu esteja entediada demais para escrever
assustada demais, cansada demais, decepcionada demais, de saco cheio demais
o fato é que não há nada senão a noite caindo no fim do domingo mais movimentado
as ruas lotadas de gente cumprindo o maldito dever de votar

afinal, isso muda alguma coisa?
não, os mesmos governantes continuarão fazendo as mesmas coisas
e isso me irrita, me faz pensar que na vida tudo acaba mesmo se repetindo
e a gente vive numa tentativa frustrante de mudar as coisas

a verdade é que nada muda, no fundo tudo continua sendo
vencendo a ilusão das pessoas de que há possobilidade de tranformação
pura farsa, o mundo apenas circula até voltar para o mesmo lugar
e começar tudo outra vez

sábado, 2 de outubro de 2010

how happy is the blameless vestal's lot

elas chegaram! as gotas ácidas e mágicas que tanto demoraram, enfim apareceram
e ontem, encheram minha tarde de esperança
desci ao primeiro momento e dancei na chuva enquanto outros corriam
pra que correr do que só faz renascer o verde?

e destas, outras me acordaram de manhã
junto aos beijos e toques delicados das mais deliciosas mãos
e abraços, declarações, preguiça saudosíssima
o café quentinho, as torradas seguidos pelo rápido adeus

sinto frio, por fora e por dentro
meu peito não sente mais o brilho dos seus olhos
minha mente pulsa tentando entender o que há e se há
quero fechar os olhos e esquecer vc nem que seja por um instante